sábado, 14 de janeiro de 2012

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA ATUALIDADE: A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS NA ESCOLA COMO FORMA DE INIBIR A EVASÃO ESCOLAR


DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA ATUALIDADE: A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS NA ESCOLA COMO FORMA DE INIBIR A EVASÃO ESCOLAR
Luiz Terencio da Silva[1]
Juliene Silva Vasconcelos[2]

RESUMO
Este artigo faz uma reflexão sobre o desencantamento do aluno pela escola tendo como consequência direta a evasão escolar. Acredita-se que debater as causas da evasão a partir dos atuais projetos político pedagógico que a escola apresenta hoje, ou seja, desfocado da vivência e a da realidade dos seus alunos, pouco contribuirá para o sucesso e superação deste problema. Conduzir-se-á este trabalho com base em linhas teóricas de alguns teóricos-críticos da educação, tais como: Spigolon (2009), Antunes(2002), Splitter; Sharp (1995), Piletti (1995), Dewey (1989), que acreditam também que a escola precisa construir significados para o aprendizado dos alunos,uma vez que somente a partir destes é que se cria uma possibilidade para o aluno não submeter-se à repetência e evasão escolar. Deste modo, o objetivo geral deste trabalho é aprofundar o debate sobre a evasão escolar no Brasil, a partir do pensamento de alguns teóricos da educação brasileira, que consideram que estes elevados índices de evasão escolar é consequência da falta de significados ocasionados por não considerar a vivencia dos alunos e de suas comunidades, mas sim políticas educacionais determinadas pelo Estado, em seus projetos políticos pedagógicos. E isso, pode ser considerado como agente motivador para o desencantamento do aluno pela escola. Acredita-se que somente a adoção de uma pedagogia que vise à valorização do mundo em que ele o aluno vive, ou seja, o mundo cibernético, das redes sociais e das tecnologias, considerados como meios motivadores/instigadores, os alunos voltarão a encantar-se pela escola. Enfim, somente assim a escola poderá combater a evasão, a repetência e desestímulo dos alunos, resolvendo assim um problema local, de âmbito nacional e preocupante.
Palavras-chave: evasão; desencantamento; vivencia; práticas pedagógicas.

1. Introdução
Analisar as causas dos altos índices de evasão escolar e do abandono dos alunos no Ensino Fundamental, bem como aprofundar o debate sobre estes temas e refletir sobre a construção dos significados na escola é o intuito deste trabalho, pois acredita-se que a interação do aluno com a escola se dá de forma mais saudável quando esta trabalha didaticamente a partir do conceito de interatividade entre o saber e a realidade das vivências deste aluno, que, enquanto indivíduo, se torna objeto de transformação dentro desta sociedade.
Splitter; Sharp (1995) critica esta visão didática da escola atual, que induz os alunos a um desencantamento pela aprendizagem, consequência de uma política pedagógica desfocada da realidade e do tempo histórico dos alunos. Será que os tempos históricos atuais exigem realmente uma nova didática para a geração informacional? Isto não seria uma visão pessimista da realidade da educação brasileira, frente aos avanços tecnológicos do mundo atual? A didática é realmente a maior causa do desencantamento do aluno pela Escola?
[...] por que, afinal, a criança deveria ser o objeto – ao invés do sujeito – de transformação? Por que, em outras palavras, não deveríamos ver a criança como uma transformadora? Somos levados a fazer essa pergunta por outra observação corriqueira, mas não menos esclarecedora: a curiosidade instintiva da criança, interesse e encantamento com tudo sob o sol, incluindo ele, diminui com o tempo, até a idade madura de 13 anos (ou ainda antes, dependendo da visão de cada um); o que antes era uma série de aventuras, descobertas e explorações passa a ser chamado de “trabalho escolar” – necessário para o futuro mas, de forma geral, enfadonho do mesmo jeito (SPLITTER; SHARP,1995, p.89).
            São com esses questionamentos que buscou-se aprofundar o debate e elaborar um parecer crítico-reflexivo sobre as razões que induzem muitos alunos a abandonarem a sala de aula por falta de uma didática instigadora ou encantadora, que busque valorizar o seu cotidiano e a sua vivência enquanto indivíduo no tempo e no espaço.
Dewey apud Splitter & Sharp (1995) fala da vivência do professor, que é totalmente diferente da criança que construíram tempos históricos bem diferentes e o contato destas duas realidades antagônicas pode, sim, influenciar negativamente um ambiente para o aprendizado da criança. Viver em tempos históricos totalmente diferentes geram pontos de vista conflitantes e também diferentes. Mas poderia essa geração “antiga” ser trabalhada de forma a ministrar uma didática atualizada, informacional e digitalizada para a “nova geração”? Esse conflito de gerações, pelo contrário, não poderia enriquecer o aprendizado dos alunos, confrontando os ideais e buscando debater experiências saudáveis e inovadoras com questões multidisciplinares da sociedade e da escola?
Sempre vivemos no tempo em que vivemos e não em outro tempo qualquer, e apenas tirando de cada momento presente o completo significado de cada experiência presente estamos preparando para fazer o mesmo no futuro. É a única preparação que na longa jornada conta para alguma coisa (DEWEY 1989 apud SPLITTER; SHARP, 1995, p.89).
            Murray Sidman (1995) também tem esta mesma impressão, quando comenta que, nos primeiros anos, as crianças se encantam pela escola, mas com o passar dos graus, a balança muda e o desencantamento do aluno pela escola predomina neste ambiente desestimulador para ele.
Nos primeiros anos, a maioria deles aprende com vontade, os poucos aprendizes relutantes destacam se dos outros. A partir dos graus intermediários e da escola secundária até a universidade, a balança muda[...](SIDMAM,1995, p.289).
            Outro crítico e também adepto da ideia de que a sala de aula é o grande vilão deste desencantamento é Moreira (1988, p.13-19), quando, ao indagar uma criança sobre o que havia de melhor na escola, ela responde-lhe que “tudo que se passava na escola até a aula começar[...]”. Fica claro que a sala de aula é o ambiente que reproduz essa insatisfação das crianças, e percebe-se claramente que os pontos de vistas dos dois atores na sala de aula, professor e aluno, pode, sim, gerar estes conflitos, interesses bem diferentes daqueles almejados por um destes atores, o que se reflete nos altos índices de evasão escolar na atualidade.
            Metodologicamente, procedeu-se um levantamento de natureza bibliográfica para a fundamentação teórica entre os diversos autores que trabalham com o desencantamento dos alunos pela escola e a evasão escolar. Deste levantamento analisaram-se os pontos de vista confluentes destes autores ao eixo proposto e a partir destes construiu-se uma reflexão sobre o tema. Não debaterá aqui sobre todas as causas da evasão ou do desencantamento dos alunos pela escola, mas sim, buscar dentro deste tema uma linha teórica que trabalha como causa do alto índice de evasão escolar no Brasil, justamente esse desencantamento que aluno tem pela escola, por causa de praticas pedagógicas impostas pelas Escolas, distantes da realidade de muitos alunos em suas comunidades.
            Dentro desta linha teórica baseou-se em alguns críticos da educação, em especial em Spigolon (2009), Antunes (2002), Splitter; Sharp (1995), Piletti (1995), Dewey (1989), e a reflexão se dará a partir dos conceitos destes teóricos, fundamentando a vertente de que em muitas escolas brasileiras os projetos pedagógicos não consideram a realidade da comunidade onde a escola está inserida, mas atende a um projeto político pedagógico vinculado as políticas públicas de educação que busca referenciar a realidade do país, que muita vezes está muito distante da realidade dos alunos e da Escola.
            O intuito é contribuir para o debate de um dos temas que mais tem preocupado a educação brasileira, e a partir destas inflexões sugerir algumas considerações sobre as políticas pedagógicas para amenizar ou diminuir estes altos índices de evasão escolar no Brasil.

2. Desencantamento ou evasão
Conforme Sidmam (1995), os educadores percebem a realidade do desencantamento do aluno, pela grande infrequencia destes em dias letivos, e, a apresentação de justificativas diversas para faltar às aulas, pela satisfação de grande parte dos alunos na véspera de feriados prolongados ou pela indignação de alunos durante as avaliações. Estes fatos podem ser concebidos como indicadores da desmotivação pela aula ou pela escola de forma geral.
            É uma temática de alta relevância na atualidade e de preocupação de boa parte dos profissionais da educação, pois a evasão e o abandono da escola por um quantitativo expressivo de alunos tem sido a realidade deste setor. Segundo França (2010), a Evasão Escolar no Brasil, no período de 2006 a 2008, o índice subiu de 10% para 11%, quando o objetivo para este período era baixar para 9%.
Buscou-se não desconsiderar a existência de vários outros motivos que causam a evasão, conforme aponta Arroyo (1997, p.23): questões de ordem econômica e social, como também a questão do tráfico, o uso de drogas e entorpecentes, a questão de novos modelos de famílias, além de outros fatores menos expressivos, como a desestruturação familiar, a questão de saúde e até pelo Bulling[3].
Todavia, acredita-se que é grande o número de alunos que abandonam a escola simplesmente pelo fato de estar desencantado com as aulas, ou com o sistema didático de determinados professores ou até porque a própria escola não o instiga o aluno a buscar novos horizontes na vida, levando-o a uma falta de perspectiva para o futuro, já tão complicado no presente.
            As transformações conquistadas pela nossa sociedade, principalmente com o avanço tecnológico e as novas maneiras de conceber o pensamento sobre o saber e sobre o processo pedagógico, têm se refletido, principalmente, na dinâmica dos alunos no contexto escolar, trazendo preocupações para os profissionais ou especialistas da área, pois todo esse ambiente tem comprometido de forma alarmante o processo ensino-aprendizagem.
            A necessidade de uma reflexão neste momento é inevitável, pois é imprescindível que os professores passem a vivenciar essas transformações de forma a beneficiar sua prática, podendo buscar novas metodologias que instiguem o aluno a se encantar com a escola, pois, caso contrário, ele acaba por ser um mero expectador desses avanços por que passam a nossa sociedade.
            A velocidade da informação e a facilidade de acesso à grande massa de populações trazem conflitos para o ambiente escolar, para que isto não ocorra é preciso que a Escola aprimore a sua prática, buscando vivenciar com o aluno os tempos históricos atuais, transformando essas vivências em aprendizados e novos significados para o ensino- aprendizagem.
            Sobre isto, Gadotti (2006, p.6) afirma que,
Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos seguros numa época de profundas e rápidas transformações [...].
            Como o enfoque é a construção de novos significados na escola como forma de inibir a evasão escolar, vamos analisar um pouco da etimologia das palavras, pois pode nos conduzir às primeiras respostas. O dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1996) define “encanto” como “algo que delicia, enleva, encanta”. Pode-se inferir o contrário para definir desencantamento. Neste sentido, a conceituação usada no presente trabalho para o termo desencantamento refere-se à perda gradual, desmotivação diante dos desafios implicados no processo de aprendizagem.
            Os termos “desencantamento”, “perda de interesse” e “desmotivação” serão usados como sinônimos. “Desencantamento” caracteriza-se pela decepção, desilusão, perda da alegria, do prazer e do fascínio e conseqüente diminuição do interesse pelo aprender na escola. A palavra “significados”, ele define como: mostrar sinais de, indicar, dar a entender, anunciar, declarar, ter significado ou sentido de, ser sinal de, notificar, comunicar, intimar.
            Então, conforme Splitter e Sharp (1995) a construção de significado na escola é fazer com que a criança entenda coisas que importam na vida dela, na vida de sua comunidade, e para que isto ocorra, a escola deve comunicar de forma mais atraente ao aluno. A escola deve intimar o aluno a se inserir no seu contexto, a sinalizar uma nova didática mais instigadora, vivenciando a realidade da comunidade em que o aluno está inserido. Para esses autores “significado” é a essência da escolarização, o professor só consegue ensinar de fato aquilo que pode ter significado na vida do aluno.
A verdade, dizem, é a primeira causadora da guerra. O Significado poderíamos acrescentar, é o primeiro e principal causador da escolarização.  [ ...]   as implicações dessa perda de significado que a escola representa para muitos alunos, mostra como a idéia central de transformar salas de aulas em comunidades de investigações dialógica pode oferecer um caminho à frente (SPLITTER; SHARP,1995, p.90).
            Segundo Splitter; Sharp (1995), a preocupação é com o fato de que a escola poderá estar tentando oferecer uma didática totalmente contrária à necessidade, às vivências, aos tempos históricos e até às aspirações dos alunos, e talvez aí resida a maior causa do desencantamento do aluno pela Escola. A reflexão é no sentido de ampliar o debate sobre a temática e encontrar novos caminhos ou novas variáveis que possam amenizar este problema e criar na escola uma nova identidade ou uma didática que privilegie estes fatores, tidos como causadores desta problemática ou aliciadores desse grupo de alunos que se evadem da Escola.
            O próprio Estado, preocupado com esses índices alarmantes, tem criado projetos especiais para esse grupo de alunos que se evadem da escola e ficam às margens de todo esses avanços sociais, econômicos e tecnológicos, como é o caso da EJA – Educação de Jovens e Adultos. Então, o interesse se volta para os significados que a escola tem colocado nas suas práticas pedagógicas e que não tem conseguido instigar um número considerável de alunos ao aprendizado.

3. A Importância da Escola
            A educação é básica para o desenvolvimento de toda sociedade. Por meio dela pode-se diminuir a miséria, promover o bem-estar, ampliar a possibilidade de inserção dos cidadãos no mercado de trabalho e melhorar a distribuição de renda e o desenvolvimento do país.
            Mas os níveis de evasão continuam elevados, até os dias atuais. Isso torna importante compreender porque o ato de estudar, que é fundamental para a construção do saber e para promover o crescimento do ser humano em todos os sentidos, é tão freqüentemente abandonado antes da conclusão das respectivas etapas do processo educacional cursadas pelos alunos evadidos.
            O pensamento de Freire apud SPIGOLON, (2009) atesta a essencialidade da educação para a formação do homem, que está sempre em busca do conhecimento de si e do mundo que o rodeia:
O homem se sabe inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O Homem pergunta-se: quem sou? De onde venho? Onde posso estar? O homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e como pode fazer esta auto-reflexão, pode descobrir-se como ser inacabado, que está em constante busca da perfeição. Eis aqui a raiz da educação (FREIRE, 1979 apud SPIGOLON, 2009, p.2).
            No mundo globalizado, é impossível pensar o trabalhador desfalcado de conhecimento ou formação profissional. Melhorar a perspectiva de futuro se faz pelo aprendizado na Escola. Com toda a tecnologia existente, necessitamos cada vez mais de profissionais altamente qualificados e habilitados a lidarem com esses equipamentos mais modernos.
            Então, a educação desempenha um papel de suma importância na formação dos futuros profissionais, e esta deve ser contínua, já que essas tecnologias se transformam e avançam em alta velocidade. Ficar fora da escola é ficar fora de toda essa tecnologia e dos benefícios que ela produz e reproduz dentro nossa sociedade. A falta de profissionais capacitados é uma barreira ao progresso da economia e alimentadora da pobreza, ampliando o quadro da desigualdade existente entre os países e dentro deles. Portanto, a demanda pela Educação é muito grande na atualidade e no futuro.
            Melhorar a qualidade de vida da população e gerar desenvolvimento social de um país são metas alcançadas somente com fortes investimentos em educação. Diversos exemplos têm mostrado isto, como é o caso da Coréia do Sul, conforme revista Veja do dia 16/02/2005, um país que, em menos de trinta anos, saiu da condição de país subdesenvolvido para desenvolvido, com fortes investimentos em educação em todos os níveis. Possibilitar o acesso de uma gama cada vez maior de indivíduos à educação é objetivo dos organismos internacionais e do país. Entender a causa do abandono ou do desencantamento do aluno pela escola é fundamental para conhecermos a realidade da educação brasileira.
            Para Piletti (1995, p.13), a ideia de educação de cada povo depende, portanto, da sua realidade concreta e de seus valores, e aqui no Brasil lidamos com uma diversidade muito grande, quer social, econômica e religiosa, por isso a escola deve também pensar nesta sociobiodiversidade para uma boa formação do seu aluno.

4. Significados da Escola
Nas questões que remetem aos significados da escola, conforme Splitter ; Sharp (1995), estão, primeiramente, o material didático, que muita vezes se trata de enciclopedismo pedagógico, no qual encontra-se um “amontoado didático”, sem unidades e sem nexo, cujos textos ou temas retratam uma realidade muita  vezes ultrapassada ou distante da realidade do aluno.
            Esse material deveria, no mínimo, respeitar as individualidades destes alunos, bem como as suas realidades em termos de comunidades. Aqui deve ficar claro que o professor tem, no material didático, um apoio a sua didática, mas em muitos casos o que vemos são professores engessados em livros didáticos totalmente distantes da realidade da Escola, que são oferecidos pelos programas do governo para distribuição gratuita.
            Outro ponto diretamente relacionado aos significados da escola diz respeito à formação que os professores recebem, é significativa, pois Spigolon (2009), orienta que, na atualidade, o ensinar e o aprender requer uma pedagogia da convivência, da igualdade, da amorosidade, da justiça social, da alteridade  e da liberdade, mas será que os professores também professam esta didática?
Compreendemos que o ensinar e o aprender, na contemporaneidade, se inserem em uma realidade mutável e imediatista, onde se observa o repertório de valores que integram o sentir, o pensar e o fazer. Quanto se busca se contextualizar o significado da educação ao lidar com a diversidade do homem e da mulher, as múltiplas dimensões do ser, entendemos que a educação requer uma pedagogia da convivência e vice-versa. As duas dimensões se fundam nos conceitos de igualdade, amorosidade, justiça social, criticidade, alteridade e liberdade que caracterizam a Teoria do Conhecimento forjada por Paulo Freire (SPIGOLON, 2009, p.09).
            O professor, como mediador da aprendizagem dentro da sala de aula, que trabalha pedagogicamente estes valores, conforme Spigolon (2009) consegue instigar seus alunos a repensarem suas realidades, suas vivências e olhar criticamente para o futuro. Essa pedagogia, sim, deveria estar dentro das escolas, valorizando a vivência dos alunos, das comunidades em que eles estão inseridos e ensinando valores que farão diferença em sua formação futura.
            Vários fatores têm dificultado a implementação de tais práticas pedagógicas, pois a base de construção de uma educação de qualidade é formada por um tripé: Escola, Professor e Família. Inserir estes valores em sala de aula requer que parte destes valores sejam também vivenciados pela família, mas a realidade de muitos alunos na escola é de famílias desestruturadas, nas quais, a grande maioria é de pais separados, estando os filhos muita  vezes, vivendo com os avôs.
            Em outras famílias as mães são as chefes do lar e trabalham o dia inteiro, não tendo tempo para conversar e muito menos para cobrar valores e atitudes mais sérias dos filhos na escola, e a criança ou adolescente, não tendo esse referencial de valores tão simples, dificulta muito o trabalho do professor em sala de aula.
            Uma vez que ele não recebeu um referencial de valores e acredita que na escola também não há esse tipo de referencial, qualquer regra ou norma escolar, ou quando ele se depara com tais referenciais, torna a escola enfadonha ou distante da sua realidade. Seagoe (1978,p.6), diz que: “A aprendizagem é influenciar o comportamento inicial do aluno por meio das experiências vividas na escola, na rua e na família.”
            Os profissionais da educação devem trabalhar todas essas possibilidades de realidades dos alunos, pois, para eles, a escola perpassa por diversas funções, que vão desde a distribuição de merenda, até um local de lazer (futebol, filme, brincadeiras, atividades lúdicas e do encontro com a galera da comunidade), ficando a função primordial da escola – a de local de aprendizado – relegada a segundo plano.
            Quando se discute as causas do desencantamento do aluno pela escola, encontra-se diversos fatores que contribuem para este fenômeno, desde as questões sociais, econômicas e até políticas. Gavaldon (2003) faz um paralelo e acusa a sociedade de tais valores tão precários.
Vemos aqui um movimento da própria sociedade vivendo em momento de insatisfação, gerada por fatores econômicos, de segurança, de saúde e de incertezas políticas, entre outros. Fala-se muito da desorganização da Escola, da má-formação do professor, da falta de metodologia adequadas as diferentes clientelas, de conteúdos desfocados da realidade das comunidades atendidas pela escola, da falta de objetivos claros, coerentes e consistentes. Com a falta de interesse da maioria das pessoas pelos acontecimentos em geral, até que ponto melhor foi levada ou transmitida essa falta de interesse? Até que ponto não é ele apenas alguém à espera, à procura de objetivos reais, que definem caminhos, que mostre seriedade e concreção para a vida futura, para sua função como membro desta sociedade (GAVALDON, 2003 p.38).
            Será que estes questionamentos da autora também nos levam a buscar da escola uma vivência para a vida mais humanizada do nosso dia-a-dia?  Todos esses acontecimentos que a mídia nos abarrota diariamente nos deixam mais frios, calculistas e insensíveis diante das atrocidades vividas por nossa sociedade? Qual seria, então, o papel da Escola para humanizar estes indivíduos para o futuro?
            A escola tem o dever de ensinar a criança a ser solidária sociável e acima de tudo humana. É na escola que aprendemos a lidar com o outro, com os diferentes e com valores solidários e da  não-violência. Acreditar que os alunos possam desencantar com escola pelo fato da violência entrar diariamente na sua casa é atribuir ao aluno o seu próprio fracasso, e não a escola, que às vezes é negligente com as faltas e as angustias dos seus alunos. A Escola sim é co-responsável pela educação em todos os ângulos dos alunos e pela freqüência deste aluno em sala de aula.
            Conforme Splitter e Sharp (1995) esse desencantamento do aluno pela escola começa pela desvalorização da própria escola como instituição reprodutora do saber elaborado, ao passo que deveria ser criadora do saber vivenciado pela sua comunidade. A desvalorização do professor enquanto profissional, que é motivo de riso, de chacota, ao invés de motivo de respeito e deferência a um profissional que forma cidadãos que farão a nossa história no futuro, isto sim é muito preocupante para a educação brasileira.  
                Ou talvez a necessidade de colocar o estudo como elemento de obrigação, de dever, num tempo em que a liberdade, a tecnologia, coloca as pessoas em contato direto com o mundo e com o lazer. Enfim, a Escola precisa mudar pedagogicamente e socialmente, pois, sobretudo a escola pública,  representa para o aluno um lugar de repreensão, de privações e de ser obrigado a participar de uma aprendizagem que é totalmente desfocada e longe da sua realidade social.
            Esse confronto entre o conteúdo ensinado pela escola e o conteúdo oferecido fora dos muros da escola, que é totalmente diferente, pois, longe dos bancos escolares, a liberdade, a tecnologia e o lazer se misturam, não traduzindo em futuro e sim em dificuldades, alargamento das disparidades sociais e de dificuldades com a profissão e com a perspectiva de um mundo melhor para o aluno.

5. Consequências e custos da evasão
O custo da evasão é um custo social, pois todos perdem com uma mão-de-obra não qualificada ou com um indivíduo que não reconhece os seus direitos de cidadania dentro da sociedade em que ele atua.
            Carrijo (1999, p.59) alega que “a exclusão da escola leva à exclusão do mundo do trabalho”. O que é verdade, pois a evasão escolar, assim com a repetência, causa prejuízos vultosos à economia. Uma força de trabalho com menor nível de escolaridade ganha menos, produz menos e, dessa forma, afeta a produtividade da empresa e do País. E o pior, contribui para aumentar a marginalidade nos grandes centros urbanos, pois boa parte dos alunos que deixam a escola ingressa no submundo do crime ou do tráfico de droga.
[...] trata das conseqüências da evasão como um dano social incalculável e até para o próprio aluno, que quando resolve ou tem necessidade de terminar os seus estudos é “rotulado” e desestimulado pelos próprios professores, criando um clima favorável ao desencantamento pela escola (CARRIJO,1999, p.59).
A destruição da auto-estima do aluno cria um círculo de expectativa negativa – o efeito pigmentação – “Se os outros acham que eu sou burro, eu devo ser burro. A escola não é para mim..” . A destruição da auto-estima leva a comportamentos indesejáveis e, freqüentemente, propaga-se para outros aspectos da vida do indivíduo. A evasão e a repetência não cria apenas um aluno fracassado, cria professores e cidadãos fracassados em todas as dimensões da cidadania, como eleitor, consumidor, contribuinte e ser produtivo. Tão ou mais grave que o fenômeno da repetência é sua assimilação como cultura educacional (CARRIJO, 1999, p. 59).
            O que essa autora observa é forte e realista na nossa sociedade. Esses custos contribuem para um país aumentar o nível de corrupção, para inviabilizar um projeto de desenvolvimento sustentável e criar um maior fosso entre as disparidades de renda social.
            A escola cria “rótulos” para alunos que estão fora da faixa escolar. Na verdade, essa falta de um tratamento especial dado aos alunos que regressam a escola com o intuito de concluí-la contribui para aumentar as taxas de evasão e de redução do nível de desempenho dos que permanecem na escola.
            Dados sobre a reprovação, a evasão e distorção idade-série no Brasil – 2010, publicados pela Revista Veja do dia 11/03/2010, fazendo um comparativo com os países da OCED[4]. Segunda a Revista a meta para 2010 era o Brasil chegar um percentual de 10% de alunos, mas a repetência estacionou nos 13%, igualando a países africanos. Quanto à evasão escolar, os índices brasileiros pioraram, de 2006 a 2008, o percentual de estudantes que abandonaram a sala de aula pulou de 10% para 11%, quando objetivo era baixar este índice para 9%.
            O Brasil conta com apenas 14% dos jovens em idade considerada ideal (entre 18 e 24 anos) na universidade, mas é um índice mínimo comparado com países da América Latina, aonde já chegaram a taxas de 21% e frustrante diante da meta do plano de educação que previa 30% dos jovens brasileiros no ensino superior.

6. Como inibir a evasão
A evasão é conseqüência de diversos fenômenos da  macro e da micro estrutura do sistema educacional, conforme Arroyo (1997), que vão desde as políticas públicas educacionais com seus objetivos até as práticas pedagógicas, e os objetivos que permeiam a Escola e seus respectivos alunos, além das questões sociais, econômicas e políticas da sociedade e de um ampla gama de problemas vivenciados por grande parte da população brasileira.      
            Buscar alternativas saudáveis para uma vida escolar de sucesso em um ambiente tão complexo como o descrito acima não é fácil, mas também não é impossível. Projetos pedagógicos de escolas que valorizam os alunos e as comunidades em que elas participam têm gerado bons resultados e um baixo nível de evasão e de repetência escolar. Fórmulas exatas não existem, até porque, a complexidade de cada comunidade, de cada escola é ímpar e, no contexto, as dificuldades de uma escola diferem muito das demais.
            Produzir uma prática baseando-se na “Pedagogia da Convivência”, de Paulo Freire apud Spigolon (2009), onde os valores e a dedicação dos profissionais começam pelo respeito a dignidade da pessoa humana, pelo carinho com o próximo, pelo ato de alteridade dentro da comunidade, são linhas de trabalho muito fortes que, aliadas a uma prática pedagógica que valorize as vivências dos alunos ou das comunidades onde estão inseridas, com certeza gera frutos saudáveis como redução da evasão e da repetência.
            Escola que encanta é aquela que trabalha com o carinho, com afeto, com a solidariedade de todos os seus membros, desde a cantineira que prepara o alimento, até os professores e supervisores, que acompanham e participam da vida de cada aluno.
            Estrutura para as Escolas participarem do mundo das tecnologias dos alunos elas têm, o que falta é um projeto de compatibilize essa estrutura às necessidades da comunidade onde elas estão inseridas. As escolas que têm buscado parcerias com as empresas, com as entidades da comunidade, com as associações de bairros, com as associações de país, têm gerado bons frutos. Acreditar que a escola por si só pode gerar estes bons frutos é não acreditar na educação como conseqüência da junção da família, dos professores e da Escola. Somente com esse tripé poderemos erradicar uma série de problemas vivenciados pela escola.
            O desencantamento do aluno pela escola se dá pela divergência entre as propostas pedagógica da escola e sua participação enquanto cidadão cibernético e global. Status que muitas escolas ainda não conseguiram adquirir. Talvez pela desvalorização dos professores, pelas políticas públicas de educação com objetivos apenas nos indicadores sociais para agradar a organismos internacionais, esquecendo que os alunos são os maiores interessados.
            A motivação do aluno vem pelo estímulo que ele recebe do professor, pois, conforme Antunes (2002, p.48), “nenhum professor pode “Ensinar” um aluno a ser capaz, mas pode ajudá-lo a se descobrir capaz”. Então, a Escola precisa ser o ambiente onde o professor age como “mentor” da criança ao orientá-lo em trabalhar o seu cognitivo. É preciso que a escola ensine a criança a aprender, a pensar, a refletir, a pesquisar, a auto-avaliar e em nenhum momento, perca a oportunidade de torná-la conhecedora de si mesma, autora de sua própria história, sabendo conviver, interagir e relacionar-se com os outros.
            Escola que encanta é aquela que é autônoma, soberana dentro da sua comunidade. Escolas engessadas em práticas pedagógicas ortodoxas só levam ao desencanto ou a frustrações de muitos alunos e até de professores.

7. Considerações Finais
Nessa perspectiva, a busca da superação do fracasso escolar, ou do desencantamento do aluno pela escola se articula a processos mais amplos do que a dinâmica intra-escolar sem negligenciar, a real importância do papel da escola nos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes.
            Assim, é fundamental não perder de vista que o processo ensino-aprendizagem é mediado pelo contexto sociocultural e pedagógico, pelas condições em que se efetivam a aprendizagem e o desenvolvimento, conseqüentemente, pela dinâmica na qual se constrói o projeto político-pedagógico da Escola e esse projeto não pode estar desfocado da realidade, das comunidades e do mundo cibernético e globalizado dos alunos, sujeitos que participaram de forma positiva ou negativa dentro deste contexto.
            Considerando que a Escola, sobretudo a escola pública, tem apresentado uma prática pedagógica não instigadora do aprendizado, mas uma prática tradicional dos professores enquanto formuladores e executores de políticas públicas para a educação. Repensar a Escola enquanto fragmento da sociedade, com suas mazelas e deficiências, e priorizar práticas pedagógicas que valorizem a dia-a-dia das crianças, o mundo cibernético e informacional onde elas participam e até mesmo constroem os seus projetos ou sonhos para um futuro, isto nos levar a acreditar que a evasão e o desencantamento não teriam lugar na vida dos alunos e sim um aprendizado coeso, pertinente e prazeroso, isto levaria a um encantamento que traria resultados totalmente diferentes para a educação e para a sociedade brasileira.
            Para que isto aconteça é necessário que se pense numa formação continuada para os professores e orientadores que formulam e executam os projetos político-pedagógicos escolares. Não pensar na participação e na relação dos alunos com mundo na atualidade é instituir uma escola menos atrativa as expectativa dos alunos. Se não há expectativa, o desencantamento dos alunos se aguça com muita facilidade.
            Repensar práticas pedagógicas, conhecer e dominar o mundo informacional é necessário e urgente para os professores para que possam disponibilizar práticas criativas dentro desta perspectiva. Somente com estas diretrizes podemos amenizar e diminuir os índices de evasão e de desencantamento dos alunos pela escola, alterando toda uma filosofia de custos e discriminação por que passam os alunos que  abandonam a escola na idade/série.
            Mas tudo isso pode ser mensurável diante de escolas que valorizam a participação dos alunos ou das comunidades onde estão inseridas. Participações essas ligadas as tecnologias da informação, onde os alunos vivem num mundo todo cibernético e interativo, instituindo novos saberes, ou direcionando o conhecimento prévio do aluno para a aprendizagem real e necessária a uma boa formação como cidadão crítico e participativo da vida e dos problemas da sua comunidade.
            Repensar estas dimensões se faz necessário neste momento e aprofundar mais as discussões sobre o tema para que haja mudanças radicais nestes indicadores que tanto retratam a realidade de uma gama muito grande de futuros brasileiros fadados ao fracasso, a ser inserido na criminalidade ou até engrossar negativamente os indicadores sociais do país.

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[1] Aluno do Curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior Presencial e EaD. Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, atua profissionalmente como Professor na Faculdade Maçônica do Triângulo e no Colégio Athenas. E-mail: terencioluiz@yahoo.com.br.
[2] Professora dos Cursos de Graduação, do Núcleo de Normalização Técnico-Científica da Pós-Graduação da Faculdade Pitágoras/Uberlândia, e Orientadora do Trabalho. E-mail: juliene.silva@pitagoras.com.br.
[3] Termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencional e repetida, praticada por um indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.
[4] OCDE. :Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, composta por países da Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá e mais dez  países emergentes., inclusive o Brasil.