DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA ATUALIDADE: A CONSTRUÇÃO DE
SIGNIFICADOS NA ESCOLA COMO FORMA DE INIBIR A EVASÃO ESCOLAR
Luiz Terencio da Silva[1]
Juliene Silva Vasconcelos[2]
RESUMO
Este artigo faz uma
reflexão sobre o desencantamento do aluno pela escola tendo como consequência
direta a evasão escolar. Acredita-se que debater as causas da evasão a partir
dos atuais projetos político pedagógico que a escola apresenta hoje, ou seja, desfocado
da vivência e a da realidade dos seus alunos, pouco contribuirá para o sucesso
e superação deste problema. Conduzir-se-á este trabalho com base em linhas
teóricas de alguns teóricos-críticos da educação, tais como: Spigolon (2009), Antunes(2002),
Splitter; Sharp (1995), Piletti (1995), Dewey (1989), que acreditam
também que a escola precisa construir significados para o aprendizado dos
alunos,uma vez que somente a partir destes é que se cria uma possibilidade para
o aluno não submeter-se à repetência e evasão escolar. Deste modo, o
objetivo geral deste trabalho é aprofundar o debate sobre a evasão escolar no
Brasil, a partir do pensamento de alguns teóricos da educação brasileira, que
consideram que estes elevados índices de evasão escolar é consequência da falta
de significados ocasionados por não considerar a vivencia dos alunos e de suas
comunidades, mas sim políticas educacionais determinadas pelo Estado, em seus
projetos políticos pedagógicos. E isso, pode ser considerado como agente motivador
para o desencantamento do aluno pela escola. Acredita-se que somente a adoção de uma pedagogia que vise à valorização do mundo em
que ele o aluno vive, ou seja, o mundo cibernético, das redes sociais e das
tecnologias, considerados como meios motivadores/instigadores, os alunos voltarão
a encantar-se pela escola. Enfim, somente assim a escola poderá combater a
evasão, a repetência e desestímulo dos alunos, resolvendo assim um problema
local, de âmbito nacional e preocupante.
Palavras-chave: evasão;
desencantamento; vivencia; práticas pedagógicas.
1. Introdução
Analisar as
causas dos altos índices de evasão escolar e do abandono dos alunos no Ensino Fundamental, bem como aprofundar
o debate sobre estes temas e refletir sobre a
construção dos significados na escola é o intuito deste trabalho, pois acredita-se
que a interação do aluno com a escola se dá de forma mais saudável quando esta
trabalha didaticamente a partir do conceito de interatividade entre o saber e a
realidade das vivências deste aluno, que, enquanto indivíduo, se torna objeto
de transformação dentro desta sociedade.
Splitter; Sharp (1995) critica esta
visão didática da escola atual, que induz os alunos a um desencantamento pela
aprendizagem, consequência de uma política pedagógica desfocada da realidade e
do tempo histórico dos alunos. Será que os tempos históricos atuais exigem
realmente uma nova didática para a geração informacional? Isto não seria uma
visão pessimista da realidade da educação brasileira, frente aos avanços
tecnológicos do mundo atual? A didática é realmente a maior causa do
desencantamento do aluno pela Escola?
[...] por
que, afinal, a criança deveria ser o objeto – ao invés do sujeito – de
transformação? Por que, em outras palavras, não deveríamos ver a criança como
uma transformadora? Somos levados a fazer essa pergunta por outra observação
corriqueira, mas não menos esclarecedora: a curiosidade instintiva da criança,
interesse e encantamento com tudo sob o sol, incluindo ele, diminui com o
tempo, até a idade madura de 13 anos (ou ainda antes, dependendo da visão de
cada um); o que antes era uma série de aventuras, descobertas e explorações
passa a ser chamado de “trabalho escolar” – necessário para o futuro mas, de
forma geral, enfadonho do mesmo jeito (SPLITTER;
SHARP,1995, p.89).
São com esses questionamentos que buscou-se aprofundar o debate
e elaborar um parecer crítico-reflexivo sobre as razões que induzem muitos
alunos a abandonarem a sala de aula por falta de uma didática instigadora ou
encantadora, que busque valorizar o seu cotidiano e a sua vivência enquanto
indivíduo no tempo e no espaço.
Dewey apud Splitter & Sharp (1995) fala da vivência do
professor, que é totalmente diferente da criança que construíram
tempos históricos bem diferentes e o contato
destas duas realidades antagônicas pode, sim, influenciar negativamente um ambiente
para o aprendizado da criança. Viver em tempos históricos totalmente diferentes
geram pontos de vista conflitantes e também diferentes. Mas poderia essa
geração “antiga” ser trabalhada de forma a ministrar uma didática atualizada,
informacional e digitalizada para a “nova geração”? Esse conflito de gerações,
pelo contrário, não poderia enriquecer o aprendizado dos alunos, confrontando
os ideais e buscando debater experiências saudáveis e inovadoras com questões
multidisciplinares da sociedade e da escola?
Sempre
vivemos no tempo em que vivemos e não em outro tempo qualquer, e apenas tirando
de cada momento presente o completo significado de cada experiência presente
estamos preparando para fazer o mesmo no futuro. É a única preparação que na
longa jornada conta para alguma coisa (DEWEY 1989 apud SPLITTER; SHARP, 1995,
p.89).
Murray Sidman (1995) também tem
esta mesma impressão, quando comenta que, nos
primeiros anos, as crianças se encantam pela escola, mas com o passar dos
graus, a balança muda e o desencantamento do aluno pela escola predomina neste
ambiente desestimulador para ele.
Nos
primeiros anos, a maioria deles aprende com vontade, os poucos aprendizes
relutantes destacam se dos outros. A partir dos graus intermediários e da
escola secundária até a universidade, a balança muda[...](SIDMAM,1995, p.289).
Outro crítico e também adepto da ideia
de que a sala de aula é o grande vilão deste desencantamento é Moreira (1988, p.13-19),
quando, ao indagar uma criança sobre o que havia de melhor na escola, ela
responde-lhe que “tudo que se passava na escola até a aula começar[...]”. Fica
claro que a sala de aula é o ambiente que reproduz essa insatisfação das
crianças, e percebe-se claramente que os pontos de vistas dos dois atores na
sala de aula, professor e aluno, pode, sim, gerar estes conflitos, interesses
bem diferentes daqueles almejados por um destes atores, o que se reflete nos
altos índices de evasão escolar na atualidade.
Metodologicamente,
procedeu-se um levantamento de natureza bibliográfica para a fundamentação
teórica entre os diversos autores que trabalham com o desencantamento dos
alunos pela escola e a evasão escolar. Deste levantamento analisaram-se os
pontos de vista confluentes destes autores ao eixo proposto e a partir destes
construiu-se uma reflexão sobre o tema. Não debaterá aqui sobre todas as causas
da evasão ou do desencantamento dos alunos pela escola, mas sim, buscar dentro
deste tema uma linha teórica que trabalha como causa do alto índice de evasão
escolar no Brasil, justamente esse desencantamento que aluno tem pela escola,
por causa de praticas pedagógicas impostas pelas Escolas, distantes da
realidade de muitos alunos em suas comunidades.
Dentro desta linha teórica baseou-se
em alguns críticos da educação, em especial em Spigolon (2009), Antunes (2002),
Splitter;
Sharp (1995), Piletti (1995), Dewey (1989), e
a reflexão se dará a partir dos conceitos destes teóricos, fundamentando a
vertente de que em muitas escolas brasileiras os projetos pedagógicos não
consideram a realidade da comunidade onde a escola está inserida, mas atende a
um projeto político pedagógico vinculado as políticas públicas de educação que
busca referenciar a realidade do país, que muita vezes está muito distante da realidade
dos alunos e da Escola.
O intuito é contribuir para o debate
de um dos temas que mais tem preocupado a educação brasileira, e a partir
destas inflexões sugerir algumas considerações sobre as políticas pedagógicas para
amenizar ou diminuir estes altos índices de evasão escolar no Brasil.
2. Desencantamento ou evasão
Conforme
Sidmam (1995), os educadores percebem a realidade do desencantamento do aluno, pela
grande infrequencia destes em dias letivos, e, a apresentação de justificativas
diversas para faltar às aulas, pela satisfação de grande parte dos alunos na
véspera de feriados prolongados ou pela indignação de alunos durante as
avaliações. Estes fatos podem ser concebidos como indicadores da desmotivação
pela aula ou pela escola de forma geral.
É uma temática de alta relevância na
atualidade e de preocupação de boa parte dos profissionais da educação, pois a
evasão e o abandono da escola por um quantitativo expressivo de alunos tem sido
a realidade deste setor. Segundo França (2010), a Evasão Escolar no Brasil, no
período de 2006 a 2008, o índice subiu de 10% para 11%, quando o objetivo para
este período era baixar para 9%.
Buscou-se não desconsiderar a existência de vários outros motivos que causam
a evasão, conforme aponta Arroyo (1997, p.23): questões de ordem econômica e
social, como também a questão do tráfico, o uso de drogas e entorpecentes, a
questão de novos modelos de famílias, além de outros fatores menos expressivos,
como a desestruturação familiar, a questão de saúde e até pelo Bulling[3].
Todavia, acredita-se que é grande o número de alunos que
abandonam a escola simplesmente pelo fato de estar desencantado com as aulas,
ou com o sistema didático de determinados professores ou até porque a própria
escola não o instiga o aluno a buscar novos horizontes na vida, levando-o a uma
falta de perspectiva para o futuro, já tão complicado no presente.
As transformações conquistadas pela
nossa sociedade, principalmente com o avanço tecnológico e as novas maneiras de
conceber o pensamento sobre o saber e sobre o processo pedagógico, têm se
refletido, principalmente, na dinâmica dos alunos no contexto escolar, trazendo
preocupações para os profissionais ou especialistas da área, pois todo esse
ambiente tem comprometido de forma alarmante o processo ensino-aprendizagem.
A necessidade de uma reflexão neste
momento é inevitável, pois é imprescindível que os professores passem a
vivenciar essas transformações de forma a beneficiar sua prática, podendo
buscar novas metodologias que instiguem o aluno a se encantar com a escola,
pois, caso contrário, ele acaba por ser um mero expectador desses avanços por
que passam a nossa sociedade.
A velocidade da informação e a
facilidade de acesso à grande massa de populações trazem conflitos para o
ambiente escolar, para que isto não ocorra é preciso que a Escola aprimore a sua prática, buscando
vivenciar com o aluno os tempos históricos atuais, transformando essas
vivências em aprendizados e novos significados para o ensino- aprendizagem.
Sobre isto, Gadotti (2006, p.6)
afirma que,
Neste
começo de um novo milênio, a educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de
um lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da universalização
da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não
apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos seguros
numa época de profundas e rápidas transformações [...].
Como o enfoque é a construção de
novos significados na escola como forma de inibir a evasão escolar, vamos
analisar um pouco da etimologia das palavras, pois pode nos conduzir às
primeiras respostas. O dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1996)
define “encanto” como “algo que delicia, enleva, encanta”. Pode-se inferir o
contrário para definir desencantamento. Neste sentido, a conceituação usada no
presente trabalho para o termo desencantamento refere-se à perda gradual,
desmotivação diante dos desafios implicados no processo de aprendizagem.
Os termos “desencantamento”, “perda
de interesse” e “desmotivação” serão usados como sinônimos. “Desencantamento”
caracteriza-se pela decepção, desilusão, perda da alegria, do prazer e do
fascínio e conseqüente diminuição do interesse pelo aprender na escola. A palavra “significados”, ele define como:
mostrar sinais de, indicar, dar a entender, anunciar, declarar, ter significado
ou sentido de, ser sinal de, notificar, comunicar, intimar.
Então, conforme Splitter e Sharp
(1995) a construção de significado na escola é fazer com que a criança entenda
coisas que importam na vida dela, na vida de sua comunidade, e para que isto
ocorra, a escola deve comunicar de forma mais atraente ao aluno. A escola deve
intimar o aluno a se inserir no seu contexto, a sinalizar uma nova didática
mais instigadora, vivenciando a realidade da comunidade em que o aluno está
inserido. Para esses autores “significado” é a essência da escolarização, o
professor só consegue ensinar de fato aquilo que pode ter significado na vida
do aluno.
A verdade,
dizem, é a primeira causadora da guerra. O Significado poderíamos acrescentar,
é o primeiro e principal causador da escolarização. [ ...]
as implicações dessa perda de significado que a escola representa para
muitos alunos, mostra como a idéia central de transformar salas de aulas em
comunidades de investigações dialógica pode oferecer um caminho à frente
(SPLITTER; SHARP,1995, p.90).
Segundo Splitter; Sharp (1995), a
preocupação é com o fato de que a escola poderá estar tentando oferecer uma
didática totalmente contrária à necessidade, às vivências, aos tempos
históricos e até às aspirações dos alunos, e talvez aí resida a maior causa do
desencantamento do aluno pela Escola. A reflexão é no sentido de ampliar o
debate sobre a temática e encontrar novos caminhos ou novas variáveis que
possam amenizar este problema e criar na escola uma nova identidade ou uma
didática que privilegie estes fatores, tidos como causadores desta problemática
ou aliciadores desse grupo de alunos que se evadem da Escola.
O próprio Estado, preocupado com
esses índices alarmantes, tem criado projetos especiais para esse grupo de
alunos que se evadem da escola e ficam às margens de todo esses avanços
sociais, econômicos e tecnológicos, como é o caso da EJA – Educação de Jovens e
Adultos. Então, o interesse se volta para os significados que a escola tem colocado
nas suas práticas pedagógicas e que não tem conseguido instigar um número
considerável de alunos ao aprendizado.
3.
A Importância da Escola
A educação é básica para o
desenvolvimento de toda sociedade. Por meio dela pode-se diminuir a miséria,
promover o bem-estar, ampliar a possibilidade de inserção dos cidadãos no
mercado de trabalho e melhorar a distribuição de renda e o desenvolvimento do país.
Mas os níveis de evasão continuam
elevados, até os dias atuais. Isso torna importante compreender porque o ato de
estudar, que é fundamental para a construção do saber e para promover o
crescimento do ser humano em todos os sentidos, é tão freqüentemente abandonado
antes da conclusão das respectivas etapas do processo educacional cursadas
pelos alunos evadidos.
O pensamento de Freire apud SPIGOLON, (2009) atesta a essencialidade da educação para a formação do
homem, que está sempre em busca do conhecimento de si e do mundo que o rodeia:
O homem se
sabe inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um
ser acabado. O Homem pergunta-se: quem sou? De onde venho? Onde posso estar? O
homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa
certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e como pode fazer esta
auto-reflexão, pode descobrir-se como ser inacabado, que está em constante
busca da perfeição. Eis aqui a raiz da educação (FREIRE, 1979 apud SPIGOLON,
2009, p.2).
No mundo globalizado, é impossível
pensar o trabalhador desfalcado de conhecimento ou formação profissional.
Melhorar a perspectiva de futuro se faz pelo aprendizado na
Escola. Com toda a tecnologia existente,
necessitamos cada vez mais de profissionais altamente qualificados e
habilitados a lidarem com esses equipamentos mais modernos.
Então, a educação desempenha um
papel de suma importância na formação dos futuros profissionais, e esta deve
ser contínua, já que essas tecnologias se transformam e avançam em alta
velocidade. Ficar fora da escola é ficar fora de toda essa tecnologia e dos benefícios
que ela produz e reproduz dentro nossa sociedade. A falta de profissionais
capacitados é uma barreira ao progresso da economia e alimentadora da pobreza,
ampliando o quadro da desigualdade existente entre os países e dentro deles.
Portanto, a demanda pela Educação é muito grande na atualidade e no futuro.
Melhorar a qualidade de vida da
população e gerar desenvolvimento social de um país são metas alcançadas
somente com fortes
investimentos em educação. Diversos exemplos têm mostrado isto, como é o caso
da Coréia do Sul, conforme revista Veja do dia 16/02/2005, um país que, em
menos de trinta anos, saiu da condição de país subdesenvolvido para
desenvolvido, com fortes investimentos em educação em todos os níveis.
Possibilitar o acesso de uma gama cada vez maior de indivíduos à educação é
objetivo dos organismos internacionais e do país. Entender a causa do abandono
ou do desencantamento do aluno pela escola é fundamental para conhecermos a
realidade da educação brasileira.
Para Piletti (1995, p.13), a ideia
de educação de cada povo depende, portanto, da sua realidade concreta e de seus
valores, e aqui no Brasil lidamos com uma diversidade muito grande, quer
social, econômica e religiosa, por isso a escola deve também pensar nesta sociobiodiversidade para
uma boa formação do seu aluno.
4. Significados da Escola
Nas questões
que remetem aos significados da escola, conforme Splitter ; Sharp (1995),
estão, primeiramente, o material didático, que muita vezes se trata de
enciclopedismo pedagógico, no qual encontra-se um “amontoado didático”, sem
unidades e sem nexo, cujos textos ou temas retratam uma realidade muita vezes ultrapassada ou distante da realidade
do aluno.
Esse material deveria, no mínimo,
respeitar as individualidades destes alunos, bem como as suas realidades em
termos de comunidades. Aqui deve ficar claro que o professor tem, no material
didático, um apoio a sua didática, mas em muitos casos o que vemos são
professores engessados em livros didáticos totalmente distantes da realidade da
Escola, que são oferecidos pelos programas do governo para distribuição
gratuita.
Outro ponto diretamente relacionado
aos significados da escola diz respeito à formação que os professores
recebem, é significativa, pois Spigolon (2009), orienta que, na atualidade, o ensinar e o
aprender requer uma pedagogia da convivência, da igualdade, da amorosidade, da
justiça social, da alteridade e da
liberdade, mas será que os professores também professam esta didática?
Compreendemos
que o ensinar e o aprender, na contemporaneidade, se inserem em uma realidade
mutável e imediatista, onde se observa o repertório de valores que integram o
sentir, o pensar e o fazer. Quanto se busca se contextualizar o significado da
educação ao lidar com a diversidade do homem e da mulher, as múltiplas
dimensões do ser, entendemos que a educação requer uma pedagogia da convivência
e vice-versa. As duas dimensões se fundam nos conceitos de igualdade,
amorosidade, justiça social, criticidade, alteridade e liberdade que
caracterizam a Teoria do Conhecimento forjada por Paulo Freire (SPIGOLON, 2009,
p.09).
O professor, como mediador da
aprendizagem dentro da sala de aula, que trabalha pedagogicamente estes
valores, conforme Spigolon (2009) consegue instigar seus alunos a repensarem
suas realidades, suas vivências e olhar criticamente para o futuro. Essa
pedagogia, sim, deveria estar dentro das escolas, valorizando a vivência dos
alunos, das comunidades em que eles estão inseridos e ensinando valores que
farão diferença em sua formação futura.
Vários fatores têm dificultado a
implementação de tais práticas pedagógicas, pois a base de construção de uma
educação de qualidade é formada por um tripé: Escola, Professor e Família.
Inserir estes valores em sala de aula requer que parte destes valores sejam
também vivenciados pela família, mas a realidade de muitos alunos na escola é
de famílias desestruturadas, nas quais, a grande maioria é de pais separados,
estando os filhos muita vezes, vivendo com os avôs.
Em outras famílias
as mães são as chefes do lar e trabalham o dia
inteiro, não tendo tempo para conversar e muito menos para cobrar valores e
atitudes mais sérias dos filhos na escola, e a criança ou adolescente, não
tendo esse referencial de valores tão simples, dificulta muito o trabalho do professor
em sala de aula.
Uma vez que ele não recebeu um
referencial de valores e acredita que na escola também não há esse tipo de
referencial, qualquer regra ou norma escolar, ou quando ele se depara com tais
referenciais, torna a escola enfadonha ou distante da sua realidade. Seagoe
(1978,p.6), diz que: “A aprendizagem é influenciar o comportamento inicial do
aluno por meio das experiências vividas na escola, na rua e na família.”
Os profissionais da educação devem
trabalhar todas essas possibilidades de realidades dos alunos, pois, para eles,
a escola perpassa por diversas funções, que vão desde a distribuição de
merenda, até um local de lazer (futebol, filme, brincadeiras, atividades
lúdicas e do encontro com a galera da comunidade), ficando a função primordial
da escola – a de local de aprendizado – relegada a segundo plano.
Quando se discute as causas do
desencantamento do aluno pela escola, encontra-se diversos fatores que
contribuem para este fenômeno, desde as questões sociais, econômicas e até políticas.
Gavaldon (2003) faz um paralelo e acusa a sociedade de tais valores tão
precários.
Vemos aqui
um movimento da própria sociedade vivendo em momento de insatisfação, gerada por
fatores econômicos, de segurança, de saúde e de incertezas políticas, entre
outros. Fala-se muito da desorganização da Escola, da má-formação do professor,
da falta de metodologia adequadas as diferentes clientelas, de conteúdos
desfocados da realidade das comunidades atendidas pela escola, da falta de
objetivos claros, coerentes e consistentes. Com a falta de interesse da maioria
das pessoas pelos acontecimentos em geral, até que ponto melhor foi levada ou
transmitida essa falta de interesse? Até que ponto não é ele apenas alguém à
espera, à procura de objetivos reais, que definem caminhos, que mostre
seriedade e concreção para a vida futura, para sua função como membro desta
sociedade (GAVALDON, 2003 p.38).
Será que estes questionamentos da
autora também nos levam a buscar da escola uma vivência para a vida mais
humanizada do nosso dia-a-dia? Todos
esses acontecimentos que a mídia nos abarrota diariamente nos deixam mais
frios, calculistas e insensíveis diante das atrocidades vividas por nossa
sociedade? Qual seria, então, o papel da Escola para humanizar estes indivíduos
para o futuro?
A escola tem o dever de ensinar a
criança a ser solidária sociável e acima de tudo humana. É na escola que
aprendemos a lidar com o outro, com os diferentes e com valores solidários e
da não-violência. Acreditar que os
alunos possam desencantar com escola pelo fato da violência entrar diariamente
na sua casa é atribuir ao aluno o seu próprio fracasso, e não a escola, que às
vezes é negligente com as faltas e as angustias dos seus alunos. A Escola sim é
co-responsável pela educação em todos os ângulos dos alunos e pela freqüência
deste aluno em sala de aula.
Conforme Splitter e Sharp (1995) esse
desencantamento do aluno pela escola começa pela desvalorização da própria
escola como instituição reprodutora do saber elaborado, ao passo que deveria
ser criadora do saber vivenciado pela sua comunidade. A desvalorização do
professor enquanto profissional, que é motivo de riso, de chacota, ao invés de
motivo de respeito e deferência a um profissional que forma cidadãos que farão
a nossa história no futuro, isto sim é muito preocupante para a educação
brasileira.
Ou talvez a
necessidade de colocar o estudo como elemento de obrigação, de dever, num tempo
em que a liberdade, a tecnologia, coloca as pessoas em contato direto com o
mundo e com o lazer. Enfim, a Escola precisa mudar pedagogicamente e
socialmente, pois, sobretudo a escola pública, representa para o aluno um lugar de
repreensão, de privações e
de ser obrigado a participar de uma aprendizagem que é totalmente desfocada e
longe da sua realidade social.
Esse confronto entre o conteúdo
ensinado pela escola e o conteúdo oferecido fora dos muros da escola, que é
totalmente diferente, pois, longe dos bancos escolares, a liberdade, a
tecnologia e o lazer se misturam, não traduzindo em futuro e sim em
dificuldades, alargamento das disparidades sociais e de dificuldades com a
profissão e com a perspectiva de um mundo melhor para o aluno.
5.
Consequências e custos da evasão
O custo da
evasão é um custo social, pois todos perdem com uma mão-de-obra não qualificada
ou com um indivíduo que não reconhece os seus direitos de cidadania dentro da
sociedade em que ele atua.
Carrijo (1999, p.59) alega que “a exclusão da escola leva à exclusão do mundo do trabalho”.
O que é verdade, pois a evasão escolar, assim com a repetência, causa prejuízos
vultosos à economia. Uma força de trabalho com menor nível de escolaridade
ganha menos, produz menos e, dessa forma, afeta a produtividade da empresa e do
País. E o pior, contribui para aumentar a marginalidade nos grandes centros
urbanos, pois boa parte dos alunos que deixam a escola ingressa no submundo do
crime ou do tráfico de droga.
[...] trata das conseqüências da evasão como um dano social
incalculável e até para o próprio aluno, que quando resolve ou tem necessidade
de terminar os seus estudos é “rotulado” e desestimulado pelos próprios
professores, criando um clima favorável ao desencantamento pela escola
(CARRIJO,1999, p.59).
A
destruição da auto-estima do aluno cria um círculo de expectativa negativa – o
efeito pigmentação – “Se os outros acham que eu sou burro, eu devo ser burro. A
escola não é para mim..” . A destruição da auto-estima leva a comportamentos
indesejáveis e, freqüentemente, propaga-se para outros aspectos da vida do
indivíduo. A evasão e a repetência não cria apenas um aluno fracassado, cria
professores e cidadãos fracassados em todas as dimensões da cidadania, como
eleitor, consumidor, contribuinte e ser produtivo. Tão ou mais grave que o
fenômeno da repetência é sua assimilação como cultura educacional (CARRIJO, 1999, p. 59).
O que essa autora observa
é forte e realista na nossa sociedade. Esses
custos contribuem para um país aumentar o nível de corrupção, para inviabilizar
um projeto de desenvolvimento sustentável e criar um maior
fosso entre as disparidades de renda social.
A escola cria “rótulos” para alunos
que estão fora da faixa escolar. Na verdade, essa falta de um tratamento
especial dado aos alunos que regressam a escola com o intuito de concluí-la
contribui para aumentar as taxas de evasão e de redução do nível de desempenho
dos que permanecem na escola.
Dados sobre a reprovação, a evasão e
distorção idade-série no Brasil – 2010, publicados pela Revista Veja do dia
11/03/2010, fazendo um comparativo com os países da OCED[4].
Segunda a Revista a meta para 2010 era o Brasil chegar um percentual de 10% de
alunos, mas a repetência estacionou nos 13%, igualando a países africanos.
Quanto à evasão escolar, os índices brasileiros pioraram, de 2006 a 2008, o
percentual de estudantes que abandonaram a sala de aula pulou de 10% para 11%,
quando objetivo era baixar este índice para 9%.
O Brasil conta com apenas 14% dos
jovens em idade considerada ideal (entre 18 e 24 anos) na universidade, mas é
um índice mínimo comparado com países da América Latina, aonde já chegaram a
taxas de 21% e frustrante diante da meta do plano de educação que previa 30%
dos jovens brasileiros no ensino superior.
6. Como inibir a evasão
A evasão é
conseqüência de diversos fenômenos da
macro e da micro estrutura do sistema educacional, conforme Arroyo
(1997), que vão desde as políticas públicas educacionais com seus objetivos até
as práticas pedagógicas, e os objetivos que permeiam a Escola e seus
respectivos alunos, além das questões sociais, econômicas e políticas da sociedade
e de um ampla gama de problemas vivenciados por grande parte da população
brasileira.
Buscar alternativas saudáveis para
uma vida escolar de sucesso em um ambiente tão complexo como o descrito acima
não é fácil, mas também não é impossível. Projetos pedagógicos de escolas que
valorizam os alunos e as comunidades em que elas participam têm gerado bons
resultados e um baixo nível de evasão e de repetência escolar. Fórmulas exatas
não existem, até porque, a complexidade de cada comunidade, de cada escola é
ímpar e, no contexto, as dificuldades de uma escola diferem muito das demais.
Produzir uma prática baseando-se na
“Pedagogia da Convivência”, de Paulo Freire apud Spigolon (2009), onde os
valores e a dedicação dos profissionais começam pelo respeito a dignidade da
pessoa humana, pelo carinho com o próximo, pelo ato de alteridade dentro da
comunidade, são linhas de trabalho muito fortes que, aliadas a uma prática
pedagógica que valorize as vivências dos alunos ou das comunidades onde estão
inseridas, com certeza gera frutos saudáveis como redução da evasão e da
repetência.
Escola que encanta é aquela que
trabalha com o carinho, com afeto, com a solidariedade de todos os seus membros,
desde a cantineira que prepara o alimento, até os professores e supervisores,
que acompanham e participam da vida de cada aluno.
Estrutura para as Escolas
participarem do mundo das tecnologias
dos alunos elas têm, o que falta é um projeto de compatibilize essa estrutura
às necessidades da comunidade onde elas estão inseridas. As escolas que têm
buscado parcerias com as empresas, com as entidades da comunidade, com as
associações de bairros, com as associações de país, têm gerado bons frutos.
Acreditar que a escola por si só pode gerar estes bons frutos é não acreditar na educação como conseqüência
da junção da família, dos professores e da Escola. Somente com esse tripé
poderemos erradicar uma série de problemas vivenciados pela escola.
O desencantamento do aluno pela
escola se dá pela divergência entre as propostas pedagógica da escola e sua
participação enquanto
cidadão cibernético e global. Status que muitas escolas ainda não conseguiram adquirir. Talvez
pela desvalorização dos professores, pelas políticas públicas de educação com
objetivos apenas nos indicadores sociais para agradar a organismos
internacionais, esquecendo que os alunos são os maiores interessados.
A motivação do aluno vem pelo
estímulo que ele recebe do professor, pois, conforme Antunes (2002, p.48), “nenhum
professor pode “Ensinar” um aluno a ser capaz, mas pode ajudá-lo a se descobrir
capaz”. Então, a Escola precisa ser o ambiente onde o professor age como
“mentor” da criança ao orientá-lo em trabalhar o seu cognitivo. É preciso que a
escola ensine a criança a aprender, a pensar, a refletir, a pesquisar, a
auto-avaliar e em nenhum momento, perca a oportunidade de torná-la conhecedora
de si mesma, autora de sua própria história, sabendo conviver, interagir e
relacionar-se com os outros.
Escola que encanta é aquela que é
autônoma, soberana dentro da sua comunidade. Escolas engessadas em práticas
pedagógicas ortodoxas só levam ao desencanto ou a frustrações de muitos alunos
e até de professores.
7.
Considerações Finais
Nessa
perspectiva, a busca da superação do fracasso escolar, ou do desencantamento do
aluno pela escola se articula a processos mais amplos do que a dinâmica
intra-escolar sem negligenciar, a real importância do papel da escola nos
processos de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes.
Assim, é fundamental não perder de
vista que o processo ensino-aprendizagem é mediado pelo contexto sociocultural
e pedagógico, pelas condições em que se efetivam a aprendizagem e o
desenvolvimento, conseqüentemente, pela dinâmica na qual se constrói o projeto
político-pedagógico da Escola e esse projeto não pode estar desfocado da
realidade, das comunidades e do mundo cibernético e globalizado dos alunos,
sujeitos que participaram de forma positiva ou negativa dentro deste contexto.
Considerando que a Escola, sobretudo
a escola pública, tem apresentado uma prática pedagógica não instigadora do
aprendizado, mas uma prática tradicional dos professores enquanto formuladores e executores de
políticas públicas para a educação. Repensar a Escola enquanto fragmento da
sociedade, com suas mazelas e deficiências, e priorizar práticas pedagógicas
que valorizem a dia-a-dia das crianças, o mundo cibernético e informacional
onde elas participam e até mesmo constroem os seus projetos ou sonhos para um
futuro, isto nos levar a acreditar que a evasão e o desencantamento não teriam
lugar na vida dos alunos e sim um aprendizado coeso, pertinente e prazeroso,
isto levaria a um encantamento que traria resultados totalmente diferentes para
a educação e para a sociedade brasileira.
Para que isto aconteça é necessário
que se pense numa formação continuada para os professores e orientadores que
formulam e executam os projetos político-pedagógicos escolares. Não pensar na
participação e na relação
dos alunos com mundo na atualidade é instituir uma escola menos atrativa as
expectativa dos alunos. Se não há expectativa, o desencantamento dos alunos se
aguça com muita facilidade.
Repensar práticas pedagógicas,
conhecer e dominar o mundo informacional é necessário e urgente para os
professores para que possam disponibilizar práticas criativas dentro desta
perspectiva. Somente com estas diretrizes podemos amenizar e diminuir os
índices de evasão e de desencantamento dos alunos pela escola, alterando toda
uma filosofia de custos e discriminação por que passam os alunos que abandonam a escola na idade/série.
Mas tudo isso pode ser mensurável
diante de escolas que valorizam a participação dos alunos ou das comunidades
onde estão inseridas. Participações essas ligadas as tecnologias da informação, onde os alunos
vivem num mundo todo cibernético e interativo, instituindo novos saberes, ou
direcionando o conhecimento prévio do aluno para a aprendizagem real e
necessária a uma boa formação como cidadão crítico e participativo da vida e
dos problemas da sua comunidade.
Repensar estas dimensões se faz
necessário neste momento e aprofundar mais as discussões sobre o tema para que
haja mudanças radicais nestes indicadores que tanto retratam a realidade de uma
gama muito grande de futuros brasileiros fadados ao fracasso, a ser inserido na
criminalidade ou até engrossar negativamente os indicadores sociais do país.
8.
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acesso em 10 nov.2011
[1] Aluno do Curso de Especialização em
Metodologia do Ensino Superior Presencial e EaD. Graduado em Geografia pela
Universidade Federal de Uberlândia, atua profissionalmente como Professor na
Faculdade Maçônica do Triângulo e no Colégio Athenas. E-mail:
terencioluiz@yahoo.com.br.
[2] Professora dos Cursos de Graduação, do
Núcleo de Normalização Técnico-Científica da Pós-Graduação da Faculdade
Pitágoras/Uberlândia, e Orientadora do Trabalho. E-mail:
juliene.silva@pitagoras.com.br.
[3] Termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencional e repetida, praticada por um indivíduo
ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma
relação desigual de poder.
[4] OCDE. :Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, composta por países da Europa Ocidental, Estados
Unidos, Canadá e mais dez países
emergentes., inclusive o Brasil.